Feito o confronto entre os dois mais recentes discos de Abdul Moimême, Na Floresta da Chuva Eléctrica (sINK wRECORDS, CD-R 2002) e Nekhephtu (Creative Sources Recordings, 2009), é notória a evolução de um tipo de expressão musical estruturada a partir de matrizes como os blues nas suas diversas formas, e ambientes mais expansivos, inspirados no trabalho de outros improvisadores, para uma linguagem mais aberta e experimental. Entre o exploratório e o meditativo, Abdul Moimême tanto procura o inesperado como retoma vias anteriormente abertas, concepção que vai bem com os ambientes nocturnos que a instalação favorece e deles retira motivo e inspiração. Cada tema evidencia um desejo particular de espacialização e a tradução prática de uma ideia de composição instantânea, apoiada em texturas metálicas suspensas e em motivos de efémera construção. É manifesta a opção por um tipo de linguagem que favorece o risco e o desenho abstracto, com défice de dramaturgia e de ornamentação, servida por arranjos simples, nascidos do cruzamento de duas guitarras eléctricas, uma Fender Stratocaster e outra de manufactura própria, e de um amplificador de válvulas vintage. A partir desta preparação, a que não é estranha a utilização de objectos metálicos afins daqueles instrumentos, as sequências de Nekhephtu, escolhidas com critério e balanço harmónico, revelam à transparência os ecos de uma distância exterior à(s) realidade(s) física(s) que lhe servem de ponto de partida, meditações pessoais sobre os cambiantes do fluxo sonoro e as múltiplas formas através das quais se pode representar a organização do espaço.