Retomei hoje o contacto, agora via disco, com o Combo Recife de Improviso. A designação diz quase tudo o que importa saber quanto ao propósito, género cultivado e origem geográfica do projecto: trata-se, como é evidente, de um colectivo de improvisação oriundo de Recife, Pernambuco, Brasil. Sem contar com 'Impro' (Cumshot Records), disponível para descarga via archive.org, ou através da página pessoal de Thelmo Cristovam. Thelmo é um activo dinamizador de vários projectos e grupos nas áreas do free jazz e da improvisação livre, em Olinda, Pernambuco. O Combo Recife de Improviso, de formação variável, dedica-se por inteiro à improvisação extrema, no sentido que Derek Bailey professava (embora longe da Escola Inglesa), em que nada é pré-estabelecido e tudo deve acontecer de forma livre, franca e espontânea no momento em que os músicos se encontram, sejam eles quem forem, conquanto apareçam à hora da actuação. Ao que sei, antes deste Untitled #03, que a editora britânica dead sea liner se prepara para editar, o grupo lançou outros quatro discos em momentos e combinações diferentes. Desta formação do CRI, habitualmente mais alargada, fazem parte Thelmo Cristovam: guitarra acústica, objectos e c-melody saxofone; Túlio Falcão: sintetizador, leitor de CD e violino, e Arthur Lacerda, guitarra eléctrica, objectos e aparelhos diversos. Os três músicos contribuem com idêntico e eficaz protagonismo para a trama que se joga nos seis temas (Trio #01 a #06), baseada em drones descontínuos de sintetizador aquoso, sobre os quais são semeados fragmentos de guitarra acústica e eléctrica, violino e restante bricolage sortida, utilizada para preencher espaços e sublinhar o passo lento, suave e vagaroso da procissão, a que não faltam convenientes e bem colocados pontos de ebulição. A tonalidade geral do preparado é ambarina, com laivos de cores claras e ocasionais incandescências electrizantes. Deveras agradável. Thelmo Cristovam e a rapaziada de Olinda estão de parabéns. E, mais que isso, merecem atenção.