Guitarrista originário de Chicago, residente em Madison, Wisconsin, EUA, Scott Fields tem estado muito activo, dando forma a uma das mais sofisticadas concepções musicais da actualidade nos domínios do avant-jazz e da música improvisada. Fields traçou para si próprio uma via original, que aponta em direcções diferentes das marcas mais distintamente assinaladas no panorama dos últimos 20 anos. O seu estilo não é o de um guitarrista típico do jazz, tradição que nem sequer bebeu no leite materno. Neste aspecto, e no que ao tratamento das seis cordas diz respeito, a sua fala apresenta mais afinidades com o discurso pianístico pós-Cecil Taylor, a partir do qual as noções de composição e improvisação passaram a misturar-se de forma homogénea. Nos últimos tempos Scott Fields tem investido muito do seu potencial e energia criativa em inúmeros projectos que exploram diferentes ideias, formatos e concepções ligados a outras tantas vertentes da música improvisada, com ligações, ainda que por vezes remotas, ao jazz. Sem contar com This American Life, gravado em quarteto (Scott Fields, Sebastian Gramss, Scott Roller e João Lobo) e editado este ano pela NEOS, Drawings, a mais recente saída de Scott Fields na Creative Sources Recordings (CS130), encontra o artista em plena exposição, como solista e orquestrador. A ideia de gravar este vasto conjunto de miniaturas para guitarra eléctrica Gibson SF-336 (Scott Fields Signature), numa longa sequência em que aparecem ligadas ombro a ombro, nasceu do encontro com o artista plástico alemão Thomas Hornung, no decurso duma residência artística algures nos Alpes Suíços. Depois de observar o processo criativo de Hornung, que desenha linhas finas a carvão sobre papel A4, ocorreu-lhe a ideia de incorporar os desenhos num projecto conjunto com o videastaArno Oehri, que também tomou parte na concepção. A ideia seria converter desenhos e esquissos numa partitura gráfica, com recurso à rica e variada sintaxe musical que a guitarra eléctrica adquire nas mãos de Scott Fields. Para este projecto, que tomou forma a partir de 2004, das 254 takes inicialmente gravadas, de que permaneceram 171 após triagem, Fields utilizou um conjunto de 98 peças, cuja duração varia entre os 7 segundos e pouco menos de 1 minuto. O fraseado da guitarra, além de breve, é simples e de traço fino e esguio, tal como nos esquissos de Hornung. A edição inclui ainda um vídeo de 55 minutos realizado por Arno Oehri, intitulado 301 Miniaturen. Enquanto obra de arte, no seu conjunto, Drawings acaba por ser uma realização interactiva de três artistas, a partir dos desenhos de um deles. Musicalmente, expõe uma faceta muito interessante e porventura menos conhecida de Scott Fields: o trabalho a solo conceptual sobre as seis cordas electrificadas.
posted by eduardo chagas
@ 26.8.08