De Tim Hagans tem-se dito muita coisa, boa e menos boa. Que tem um som de trompete nítido e brilhante, preciso no tempo e no recorte das figuras, ora redondo e macio ora acutilante; mas que foi amolecendo com o passar dos anos, entregando-se conformadamente a um certo ramerrame que redunda as mais das vezes em mais chuva no molhado. Nem tanto ao mar nem tanto à terra, diria, pois sendo embora verdade que o arrojo e a chama têm andado algo arredados do discurso hagansiano, as qualidades de compositor e de trompetista improvisador, o saber de experiência feito e a capacidade de surpreender pela positiva, esses permanecem intactos, e se não o vemos a cruzar os céus em voos rasgados, é possível encontrá-lo com os pés bem assentes na terra, a seguir uma via que talhou de há uns anos a esta parte, que passa por afirmar o seu personalizado som multicolor dentro da corrente dominante do jazz actual, marca que lhe ficou colada à pele desde os tempos em que integrava a orquestra de Stan Kenton. Vem isto a propósito de Alone Together, recente realização de Tim Hagans à frente de um quarteto clássico-progressista que de imediato salta à vista pela qualidade nominal: Marc Copland, piano; Drew Gress, contrabaixo; Jochen Rückert, bateria. Mas nem só de nomes vive o produto. Edição de 2008 da alemã Pirouet Records, Alone Together transpira refinamento emocional, expresso de forma intensa, por vezes ao rubro, outras vezes com suavidade baladeira que convoca a carga melodramática que cada caso reclama. O trio de suporte comunica entre si e gere com saber e agilidade todas as nuances, variações cromáticas e mudanças de ambiente, interpretando com inteligência e sensibilidade o que em cada momento Hagans e Copland pretendem enunciar, sublinhar ou apenas sugerir. Escutar a precisão do trabalho colectivo sobre as quatro composições originais de Marc Copland (See You Again; Not Even the Rain; Sweet Peach Tree; e Over and Back), ou ouvir pela enésima ou pela primeira vez o quarteto discorrer sobre clássicos intemporais como You Don't Know What Love Is (D. Raye/G. Paul), Alone Together (H. Dietz/A. Schwartz), ou Stella by Starlight (V. Young), será, em qualquer dos casos, uma experiência iniciática de mais que provável satisfação. Distribuição lusa pela Mbari.