Image hosted by Photobucket.com
19.4.08
 

Photobucket

Esta caiu-me no colo sem querer. Andava à cata de raridades e peças obscuras e saiu-me esta improvável pechincha a preço de ultra-saldo, disco que já havia cobiçado, embora a preço que, de tão escaldante, me fez abandonar a melhor das intenções aquisitivas. Falo da Grande Missa em Dó Menor de Mozart, KV 427 (Große Messe, Messe en Ut Mineur ou C Minor Mass), na leitura recente de Emmanuel Krivine. Com Sandrine Piau (soprano), Anne-Lise Sollied (soprano), Paul Agnew (tenor), Frédéric Caton (barítono), o Accentus Ensemble e La Chambre Philharmonique dirigida por Krivine. Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) escreveu 16 missas, 12 delas ao serviço do seu patrono, o príncipe-arcesbispo de Salzburgo, Hieronymus Colloredo. Conta-se que Colloredo gostava de interferir de forma directa no trabalho do compositor, condicionando-o esteticamente, ou porque não era grande apreciador da arte da fuga, em voga na época, gosto que Mozart recebera de Bach e Handel, compositores que estudava à época, ou porque gostava que os textos litúrgicos não perdessem a plena inteligibilidade no meio do emaranhado do contraponto. Havia também outro constrangimento de ordem temporal, que tinha a ver com a duração média de uma missa, a qual não deveria ultrapassar os três quartos de hora. Já em Viena, e fora da alçada de Colloredo, Mozart escreveu esta missa entre 1782 e 1783, como um voto pela melhoria do estado de saúde daquela que viria a ser sua mulher, Constanze, a filha mais nova da família Weber. Constanze, soprano amadora, tinha uma certa predilecção pela fuga. Esta, associada à religiosidade da família Weber, pode ter sido uma das razões para Mozart ter voltado à forma da missa, escrita fora do programa de encomendas que lhe iam fazendo. Duzentos anos depois, a obra continua rodeada de mistério. Porque é que a Grande Missa, tal como a outra das mais famosas missas de Mozart, o Requiem, ficou incompleta? A explicação talvez seja simples: falta de tempo, já que na mesma altura, em 1782, Mozart escrevia a ópera O Rapto do Serralho (Die Entführung aus dem Serail), em simultâneo com a série de quartetos de cordas dedicados a mestre Haydn. O Requiem viria a ser terminado por Süssmayr, discípulo de Mozart; a Grande Missa foi tendo várias propostas de versões completas (Schmitt, Robbins Landon, Robert Levin, ...) embora também seja tocada tal como o autor a deixou. Esta vibrante versão de Emmanuel Krivine, de grande qualidade sonora e beleza interpretativa, editada em 2005 pela francesa naïve, partindo da leitura de Helmut Eder (Bärenreiter, 1983), tem o aliciante suplementar de ser executada em instrumentos da época, o que pode dar uma ideia mais aproximada de como Mozart teria pensado que a obra deveria soar.

Kyrie, Mass in C Minor, K. 427, Mozart
John Eliot Gardiner / English Baroque Soloists / Monteverdi Choir

 


<< Home
jazz, música improvisada, electrónica, new music e tudo à volta

e-mail

eduardovchagas@hotmail.com

arquivo

setembro 2004
outubro 2004
novembro 2004
dezembro 2004
janeiro 2005
fevereiro 2005
março 2005
abril 2005
maio 2005
junho 2005
julho 2005
agosto 2005
setembro 2005
outubro 2005
novembro 2005
dezembro 2005
janeiro 2006
fevereiro 2006
março 2006
abril 2006
maio 2006
junho 2006
julho 2006
agosto 2006
setembro 2006
outubro 2006
novembro 2006
dezembro 2006
janeiro 2007
fevereiro 2007
março 2007
abril 2007
maio 2007
junho 2007
julho 2007
agosto 2007
setembro 2007
outubro 2007
novembro 2007
dezembro 2007
janeiro 2008
fevereiro 2008
março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
setembro 2008
outubro 2008
novembro 2008
dezembro 2008
janeiro 2009
fevereiro 2009
março 2009
abril 2009
maio 2009
junho 2009
julho 2009
agosto 2009
setembro 2009
outubro 2009
novembro 2009
dezembro 2009
janeiro 2010
fevereiro 2010
junho 2011
maio 2012
setembro 2012

previous posts

  • Open Ears MusicAdventure Jazz & Improvised MusicA...
  • Este vai direitinho ao coração dos admiradores de ...
  • Luís Lopes HUMANIZATION QUARTETLuís Lopes – guitar...
  • Novos CIMP, ainda a estalar:Many In Body, One In M...
  • SIRENEN & BLÜTEN (Creative Sources #125), de Sasc...
  • Entrevista com Nicole Mitchell no The Independent Ear
  • Com o pensamento e o coração nos visitantes do Jaz...
  • O pianista norte-americano Thollem McDonas e o en...
  • Dennis Gonzalez Yells At Eels Polish Tour 2008In M...
  • MEREDITH MONK & VOCAL ENSEMBLE IN CONCERT26 ABRIL,...

  • links

  • Improvisos ao Sul
  • Galeria Zé dos Bois
  • Crí­tica de Música
  • Tomajazz
  • PuroJazz
  • Oro Molido
  • Juan Beat
  • Almocreve das Petas
  • Intervenções Sonoras
  • Da Literatura
  • Hit da Breakz
  • Agenda Electrónica
  • Destination: Out
  • Taran's Free Jazz Hour
  • François Carrier, liens
  • Free Jazz Org
  • La Montaña Rusa
  • Descrita
  • Just Outside
  • BendingCorners
  • metropolis
  • Blentwell
  • artesonoro.org
  • Rui Eduardo Paes
  • Clube Mercado
  • Ayler Records
  • o zurret d'artal
  • Creative Sources Recordings
  • ((flur))
  • Esquilo
  • Insubordinations
  • Sonoridades
  • Test Tube
  • audEo info
  • Sobre Sites / Jazz
  • Blogo no Sapo/Artes & Letras
  • Abrupto
  • Blog do Lenhador
  • JazzLogical
  • O Sítio do Jazz
  • Indústrias Culturais
  • Ricardo.pt
  • Crónicas da Terra
  • Improv Podcasts
  • Creative Commons License
    Powered by Blogger