Este vai direitinho ao coração dos admiradores de Sonny Rollins e de John Coltrane de finais de 50. Não que seja mimético dos mestres ou sequer colado às estéticas dos anos gloriosos do jazz americano. Pelo contrário, Live at Glenn Miller Café, do Gyldene Trion, é um disco bastante personalizado, ou assim não fosse o som e atitude de Jonas Kullhammar, Torbjörn Zetterberg e Daniel Fredriksson. De há uns anos para cá, Kullhammar tem vindo a dar sinais de que é uma das vozes a considerar no saxofone tenor (e barítono); o mesmo se diga dos acompanhantes, dois dos jovens mais prolíficos e criativos da cena jazz nórdica, que despontou nos últimos anos, catapultada por editoras independentes como a Moserobie, a Smalltown Supersound/jazz e a Ayler Records, e se está a afirmar com uma vitalidade que não se encontra em parte nenhuma da Europa. Nem da América, dir-se-ia, sem grande risco de exagero. Não há dúvida que o disco gravado por Sonny Rollins em 1957, A Night at The Village Vanguard, em 1957, com Wilbur Ware e Elvin Jones é uma referência que vem à memória a cada passo, sobretudo porque entre um e outro há o mesmo tipo garra e trepidação, uma forma de respirar semelhante, o mesmo tipo de liberdade harmónica e equilibrada combinação dos aspectos energético e lírico. Perfeita noção de tempo, controle e fraseado solto, num ambiente de trio coeso, que privilegia os tempos médios na execução de três clássicos, The Night Has a Thousend Eyes, de Garrett/Wyane/Weismanm, e Friday The 13th e Stuffy Turkey, de Thelonious Monk (muito interessantes as leituras ao pé de Charlie Rouse, saxofonista de Monk), mais um original de Zetterberg (Hurricane Ann) e outro de Kullhammar (Snake City Rundown), este último de evidente ressonância rollinsiana, por referência a East Broadway Rundown, disco enorme que Sonny Rollins gravou em 1966 para a Impulse, com Freddie Hubbard, Jimmy Garrison e Elvin Jones. 50 anos passados sobre a histórica noite do Village Vanguard, Live at Glenn Miller Café, gravado a 13 de Agosto de 2007, em Estocolmo, captou um concerto inspirado do Gyldene Trion, que está aí para se continuar a afirmar, sem receios de o fazer com tipo de formação que tão bons e duradouros frutos tem dado nos últimos 50 anos do história do jazz. Notas, não dou. Mas se desse, teria que ser alta. Edição da sueca Ayler Records, com produção de Jan Ström.