Monkey-Pockie-Boo está longe de pertencer à melhor safra de Sonny Sharrock, que se há-de buscar em Black Woman e em Ask the Ages, com uma volta pelo extenso trabalho com o grupo Last Exit. É um facto inelutável que Linda Sharrock enche demasiado a panorâmica. Teria sido linda, isso sim, se tivesse moderado um pouco o gorjeio e dado passagem ao marido, que, cavalheiro, a deixou completamente à solta para endoidar à vontade. E se ela se destemperou… Depois – segundo problema – a secção rítmica também não ajuda a tornar negligenciável o factor Linda, mortinha para se atravessar no caminho de toda a gente. E não houve quem a tivesse calado ou dado uma revista para ler ou ver os bonecos. Os franceses Beb Guérin, contrabaixo, e Jacques Thollot, bateria, também não estão em dia sim, patinam um bocado, sem saber bem para onde ir, cada um à espera que seja o outro a desatar o nó em que se enrodilharam. Entretanto, a meio da viagem, o barco adorna perigosamente e só não vai ao fundo porque Sonny, no pouco que mostra daquilo que fez dele o príncipe negro da guitarra eléctrica free, segura uma ponta daqui, outra dali, e a nave lá segue torcida e a meter água até ao porto mais próximo. Sendo assim, terá valido a pena? Sim, pela terceira daquelas razões. Sonny Sharrock não salva totalmente esta curta sessão – 27th Day (16:55); Soon (8:00); Monkey-Pockie-Boo (8:55) – mas a sua arte de tocar guitarra, embora obnubilada (também se perde a tocar slide whistle, espécie de apito com vara, que não lembraria a ninguém trazer para aqui), espreita de quando em vez, e então é como aqueles dias escuros em que o sol por momentos aparece por entre as nuvens para nos aliviar o peso do spleen. Recomendável? Sim, a quem já conheça e goste de Sonny Sharrock, ou como exemplo típico de sessão BYG Actuel de finais de 60, princípios de 70, com muita freakalhada à mistura, numa onda de peace and love e vale tudo. Um passo em falso? Não tanto, porque pesem embora as excrescências, há aqui matéria musical com interesse, embora sem comparação com outras obras de Warren Harding Sharrock. Para principiantes, talvez a reedição em CD de Monkey-Pockie-Boo (BYG Actuel/Affinity, 1970; Sunspots/Abraxas, 2002) seja de evitar, pois é bem provável que lhes faça apetecer pôr-se a milhas e nunca mais quererem sequer ouvir falar de Sonny Sharrock, ou começar a fazer corruptelas com o apelido do senhor, o que é de evitar, quanto mais não seja por respeito aos grandes artistas mortos. Se pudesse, ficava só com o som das partes de guitarra e o resto dava ao gato.