A corrupção não tem só o lado canalha de que se ouve falar. Ver não, que não existe. Por exemplo, a adulteração de maquinaria para fazer som, parafernalia nascida com outra configuração, sujeita entretanto a cirúrgicas intervenções, tem resultado que se ouça, por muita lixarada que também abunde. Se a uma pilha de tralha analógica se somar uma bateria convencional tocada de modo esdrúxulo, temos caso. É no grupo dos projectos com validade estética nascidos nesta terra de ninguém, zona cionxenta que é de todos afinal, que se incluem os portugueses One Might Add. Outra maneira de dizer Alberto Arruda e Ruben Costa, duo de quem saiu há pouco Sailing Team, na Ruby Red Editora, dupla que, associada a outra, formou um quadrilátero de boa memória, que deixou rasto na netlabel Test Tube. Três anos já lá vão e a coisa chamava-se We Shall Say Only The Leaves. Lembro-me que alinhavei um escrito sobre Exploding Whale, naquela altura. De volta a Sailing Team (outra vez a temática marítima, e não menos explosiva, diria), umas quantas passagens pela curta experiência (cada sessão tem apenas 24 minutos, por isso se aconselha packs de duas ou três sessões por junto), revela uma utilização proficiente de material vagamente aparentado a entidades reconhecíveis como sintetizador, samplers, caixa de ritmos marada e outras maradices geradoras de barulho, ou de noise, que é mais fino e educado dizer-se. Nada vem creditado, portanto é só a gente deitar-se a adivinhar combinações e a tirar umas pelas outras. É desta fervura amena, com esporádicos beats sacados à house e a outras danças bravias, que se decanta o som sujo, residual e de cromatismo forte, psicadélico e pós-kraut q.b., dos One Might Add. Algo que calha mesmo bem para massajar as meninges, se ouvido em volume convenientemente alto. Máquinas e rapazes na reinação. Mas a sério. Ideal para soundtrack do filme de ficção científica série Z que imaginar se queira.