2004 já lá vai, mas há discos que “pedem” para voltar à superfície dos dias que correm. É o caso de Simulated Progress (PI Recordings), do trio Fieldwork: Vijay Iyer (piano), Steve Lehman (saxofones alto esopranino) e Elliot Humberto Kavee (bateria e percussão). A estética do trio ambienta-se bem no estreitamento das ligações entre ritmos pop/funk e a harmonia própria do jazz (o co-produtor é Scott Harding, nome ligado a outro tipo de ritmos, como hip-hop e o funk) à semelhança do que têm vindo a fazer artistas como Jason Moran, Greg Osby ou, antes deles, Steve Coleman. Para quem aprecia esse tipo de movimentações, não isentas de alguma controvérsia e divisão do gosto do público, Simulated Progress é um acrescento qualitativo. Apesar de, de um modo geral esta estética M-Basista não me dizer grande coisa, pois é apanágio faltar-lhe em densidade o que lhe sobra em frivolidade e agilidade rítmica, curiosamente neste disco o que mais aprecio é a fluidez das mudanças de tempo (Elliot H. Kavee anda há alguns anos na estrada com o pianista Omar Sosa), a flexibilidade das estruturas harmónicas (além do mais, a mão esquerda de Iyer dispensa bem o contrabaixo) e o anguloso desenho melódico de Steve Lehman, elementos que lhe conferem uma plasticidade interessante. Será porventura este aspecto conciliador a fazer com que o disco aguente um bom par de audições sem cair no repetitivismo aborrecido, e constitua a síntese possível entre os universos musicais de Steve Coleman e Anthony Braxton.