Miguel Sousa Tavares tem uma frase pintada nas paredes do Metro e em outdoors gigantes espalhados pela cidade, que também já vi escrita na contracapa do seu último best-seller: «Tenho medo que a liberdade se torne um vício». Não conheço o contexto da frase elevada a soundbyte para vender livros – e realmente vende, é moda, não há menina ou senhora que não se passeie com o tijolo um pouco por todo o lado. Mas, agarrar-se a gente à liberdade como algo vital não me parece que seja razão para sentir temor. Se ela passa à condição de indiferente isso é que dá que pensar. Liberdade é poder escolher, e escolher não é um vício. Não poder escolher é que é mau. É falta de liberdade. Isso é medonho. Mas não me importa discutir os medos e os vícios de Sousa Tavares ou das suas personagens. Nem me interessa a coça que Vasco Pulido Valente lhe deu ou tentou dar (não bate quem quer…) à conta dos erros e imprecisões históricas que alegadamente conspurcam as águas do Rio das Flores. Lembrei-me disto a propósito do “vício” em que se está a tornar a nova edição da netlabel italiana Zymogen. Falo de Tisza meets Dunav (zym018), novo ensaio electroacústico de Sasa Vojvodic, artista sonoro sérvio radicado em Paris, mais conhecido pelo nome artístico de Letna. Letna anda nesta vida há alguns anos. Além de curador da SEM label, desenha paisagens sonoras abstractas de refinada nostalgia e apurado sentido poético.