Norman Howard é um nome desconhecido para a maior parte do público, o que bem se compreende. Gravou pouco, expôs-se ainda menos, vivendo ainda, remeteu-se a uma existência discreta que já leva décadas. Contudo, Norman Howard tem o seu lugar na história. Músico de Cleveland, amigo e companheiro de Albert Ayler, fez parte do Albert Ayler Quintet, com Henry Grimes, Earle Henderson e Sunny Murray, com quem gravou Spirits (Debut, 1964), também editado sob o título de Witches & Devils (Freedom). Logo a seguir, depois de ter estagiado algum tempo na companhia dos irmãos Ayler (Albert e Donald), Norman Howard fundou o seu próprio quarteto com gente de Cleveland: Joe Phillips (saxofone alto), Walter Cliff (contrabaixo) e Corney Millsap (bateria). Em 1968, o grupo gravou duas sessões de estúdio em separado, entregues ao produtor Bernard Stollman para serem publicadas pela ESP-DISK. Tratava-se de material de estúdio, originais de Norman Howard e Joe Phillips, que, agrupados em dois conjuntos, foram tituladas, respectivamente, Burn Baby Burn e Signals. Por esta altura, a editora de Stollman atravessava um período de sérias dificuldades económicas, fase que se prolongou até 1974, ano em que fechou as portas. As bobines com as gravações do quarteto ficaram esquecidas nas prateleiras da ESP até 1989, ano em que Roy Morris, produtor independente, resolveu retomar o processo e editá-las a suas próprias expensas numa editora de cassetes que entretanto fundara, a Homeboy Music.
As cassetes esgotaram-se num ápice e foi preciso chegar a 2007, 38 anos depois da gravação, para que a ESP-DISK editasse os dois volumes num só, sob a designação única de Burn Baby Burn em formato de CD, justamente creditado a Norman Howard e Joe Phillips. Como seria de esperar, face à grande influência que Ayler teve à época, a começar pelos seus conterrâneos de Cleveland, a música é fruto da época e, como tal, situa-se no free jazz típico de meados da década. Exibe características que se podem designar por post-aylerismo, descendente que é na linha recta das estéticas de Ayler, com a diferença de que na música de Howard e Phillips os tempos são mais lentos e o poder de fogo é consideravelmente menos intenso. Depois de 1968, Norman Howard caiu na mais absoluta obscuridade. Em 2001, o sueco Mats Gustafsson revisitou a música de Howard juntando, para o efeito, dois grupos: The Thing e School Days (Mats Gustafsson, Ken Vandermark, Jeb Bishop, Kjell Nordeson, Ingebrigt Håker Flaten e Paal Nilssen-Love). Desse encontro resultou o LP The Music of Norman Howard, editado em 2002 pela Anagram Records.