Grosse Abfhart, ou a Grande Partida, octeto formado por Serge Baghdassarians (electrónica), Boris Baltschun (electrónica), Chris Brown (piano, electrónica), Tom Djll (trompete), Matt Ingalls (clarinete), Tim Perkis (electrónica), Gino Robair (sintetizador analógico) e John Shiurba (guitarra), uns da familia Braxton (Shiurba, Robair, Ghost Trance Music); outros, parentela próxima. Com tanta electrónica a bordo deste zepellin carregado de hidrogénio, o risco de despenhamento e explosão era real, por causa da putativa interferência com os comandos de voo. Além disso, somando sintetizador e guitarra eléctrica, poder-se-ia pensar que Erstes Luftschiff zu Kalifornien (Creative Sources 065), título deste episódio associativo entre músicos alemães e californianos houvesse de resultar numa massa sonora compacta e de elevado volume, sem nuance nem detalhe. Suposição errada, pois nada nos movimentos do Luftschiff a caminho da Califórnia vai aos trambolhões, não há sheriff nem tiros para o ar. Os cinco desdobramentos da peça são duma rara ductilidade e subtileza em escala diminuta. Para se perceber o que se passa é necessário fazer um penetrante zoom auditivo e estar atento ao mínimo sinal, porque a movimentação é quase imperceptível. Por vezes, mal se dá pelos sinais vitais, a música quase perde o pulso; noutras, como é o caso de Interkontinentale Luftshiffhart, crescem estalagmites de piano e guitarra em direcção ao espaço sideral, intervaladas por silêncios ameaçadores. Aos poucos, as formas começam a revelar-se a partir da quase ausência de som. Por cima do sussurro, camada fina de electrónica, crescente marulhar das ondas, reconhece-se um silvo de clarinete, um restolhar de trompete, o lento gotejar do piano. Parece que nada se passa mas a tensão está lá, presente ou eminente. Quando a Europa se encontra com a Bay Area de S. Francisco tudo pode acontecer, e desta vez aconteceu magia. Há vida e música com ideias nesta estimulante perspectiva de um novo Summer of Love euro-americano.