Há que tirar o chapéu a Andrew Drury por este disco de percussão solo. O que mais admiro na arte deste percussionista de Brooklyn, Nova Iorque, em particular neste Renditions – Solos 2004-2007 é a capacidade de evocar toda a sorte de sons naturais ou culturais, da natureza ou industriais, pessoas a respirar ou máquinas a trabalhar, sons orgânicos a imitar electrónicos. Todas as superfícies são percutíveis, além das folhas de serra, berlindes em caixas, peles, contentores de plástico e metal, quase sempre metal contra metal. Com uma panóplia de instrumentos e artefactos, Drury faz soar granizo em chapa de zinco, putos na rua a rodar com arcos e gancheta, um desporto que já não se vê praticar, eléctricos a deslizar sobre carris, carros que passam ao longe numa auto-estrada, aviões, pássaros, ondas no mar, insectos, o que se quiser, basta encostar o ouvido à percussão, deixar-se conduzir e imaginar outras fontes, outros sons. Andrew Drury, artista completo, tanto debica na pop, como no klezmer ou na new music, toca nas ruas e nos estúdios, partilha palcos e festivais na América e na Europa com artistas tão diferentes e poli-facetados como Myra Melford, Mark Dresser, Briggan Krauss, Jack Wright, Michel Doneda, Mazen Kerbaj, Jason Kao Hwang, Wade Matthews, Reuben Radding e de tantos mais, além de baterista de jazz (estudou com o grande Ed Blackwell) toca piano e trompete, e é também um compositor com ouvido culto e educado com queda para a melodia, ao mesmo tempo que trabalha em grupos fora do ambiente downtown de Nova Iorque. Este Renditions – Solos 2004-2007 (Creative Sources Recordings, 2007), irresistivelmente áspero e complexo, arrepiante nas suas fricções metálicas e bruscas explosões de ruído, é um disco arriscado, mesmo dentro do contexto mais “natural” num músico com as características de Andrew Drury.