Salvem a crítica…
O Ípsilon, suplemento do jornal Público, que agora anda à caça de talentos, abre hoje com a notícia de que o americano National Book Critics Circle está empenhado numa campanha para salvar a crítica literária. Dessa campanha fazem parte ideias como mandar cartas aos directores dos periódicos que mais ou menos ostensivamente vão comendo espaço à crítica de livros, participar nos debates e discussões organizados por livrarias, inscrever-se num clube do livro, criar um blog para agitar o marasmo, e por aí adiante. Isto, na América. Por cá, os dois jornais diários que já valeu a pena ler (Público e DN) estão como estão, o primeiro a correiodamanhãzar-se a passos largos (Deus tenha a sua alma em descanso...), o segundo a vinte-e-quatrohorizar-se sem vergonha nenhuma, o que significa, entre outras coisas, que o espaço dos livros e da literatura tem mirrado a olhos vistos. As razões são por demais conhecidas e entroncam na baixa circulação de jornais, nos envergonhantes hábitos de leitura da população portuguesa, na baixa educação, no baixo poder de compra, mas também (sobretudo?) na baixa cultura e educação de donos e directores de jornais - muito de tudo, claro. E quanto à crítica musical? Aí vamos de mal a pior. O suplemento cultural do Diário de Notícias ardeu (era muito elitista e incompreensível para o Sr. Oliveira, patrão à moda antiga). Nesta matéria, diga-se em abono da verdade que não se deu pela perda, pelo menos no que à música improvisada (jazz incluído) diz respeito. O que abundava era a sempiterna cultura pop massificada, semanalmente servida aos leitores como enlatado que se consome e esquece no próprio dia, que para mais não presta. Na semana seguinte havia mais uma dose e tudo parecia andar no mais ilusório Galopim. No Público passava-se continua a passar-se mutatis mutandis o mesmo (o estilo "ombro do teu cão" veio para ficar), salvos os períodos que foram do cada vez mais saudoso Fernando Magalhães e, mais recentemente, de Rodrigo Amado. Fora isso, popalhada da mais vulgar e esteticamente irrelevante, o habitual nicho da clássica… e estamos conversados. Se a crítica literária se pode queixar, a crítica musical, de tão tíbia e insignificante, nem voz tem para se lamuriar. Isto quanto aos diários. Nos semanários é diferente: o Expresso enquistou há 30 anos e o Sol não tem queda nem nasceu para a música.