Casa composta, embora com amplas clareiras, era este o aspecto do (demasiado) Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, sito entre o Tejo e os Jerónimos. Ficou-se sem saber se Jason Moran & The Bandwagon não despertaria mais público lisboeta que o presente, ou se, sendo dia de Mourinho castigar o Futebol Clube do Porto, o esférico mandava mais que o piano. Não importa. Quem viu a bola viu desaire, frango e tudo. Quem foi ao CCB viu um bom concerto de jazz por uma das mais carismáticas e emergentes forças do renovado trio de piano. Todos ainda na primeira metade da terceira década de vida, Jason Moran, Tarus Mateen e Nasheet Waits deixaram a melhor da impressões e acrescentaram parede em relação ao nosso anterior encontro em salas portuguesas, a 23 de Outubro de 2003, no Seixal Jazz, então com Sam Rivers.
A coesão do grupo é por demais evidente. É fruto não apenas do confirmado talento individual de cada instrumentista, mas sobretudo de um trabalho continuado enquanto trio – The Bandwagon. Jason Moran, o líder, mostrou respeito e admiração pelas diferentes tradições do jazz americano; um olhar para a história sem cobiça nem reverência copista, ao mesmo tempo que sabe ser original e assumir a sua própria voz, o que faz a diferença relativamente à horda de pianistas da sua geração que pulula um pouco por todo o lado, as mais das vezes meras caixas de ressonância do passado, por mais glorioso que possa ter sido.
Muitos e bons momentos de improvisação se ouviram no CCB, dentro e fora dos temas, respostas em directo aos beats, sons vocais hip-hop e poesia de rua que saiam do mini-disk comandado pelo pianista; o sublinhar das passagens gravadas com uníssonos, ecos, acrescentos e expansões musicais da temática social orientada para a consciencialização dos artistas e dos ouvintes. O processo não é inovador, foi já tentado e posto à prova por artistas de vários quadrantes, como o brasileiro Hermeto Pascoal e, geracional e geograficamente mais próximos, Mike Ladd, Matthew Shipp e outros.
O reportório foi essencialmente recolhido dos dois mais recentes discos para a Blue Note, sobretudo do último, Artist in Residence (Blue Note Records), o sétimo, que nasceu como resposta a encomendas que lhe foram dirigidas por importantes pólos artíscos: o Lincoln Center, o Walker Art Center, e o Dia Art Foundation. Interessantes, as releituras de Jaki Byard, a cujo estilo Moran vai buscar referências, tal como ao de Andrew Hill. Teve ainda uma passagem pelos blues, com um original de Albert King, e pelos clássicos, como Just You, Just Me.
Interessante foi constatar que Jason Moran continua a levar a sua música para territórios pouco explorados ou ainda desconhecidos; que é capaz de arriscar sair do conforto do standard e procurar novas formas de expressão num estilo variado que não se deixa aprisionar numa só corrente. Um concerto limpo e escorreito, como se esperava. (Foto: Andrew Hovan) Jason Moran & The Bandwagon - Centro Cultural de Belém, Lisboa. 06.032007