Wishing You Were Here, quinto título de Chris Kelsey para a Creative Improvised Music Projects (CIMP), que comentei aqui há dias, é uma bomba. Chris Kelsey é dos poucos saxofonistas de jazz actuais que se dedica exclusivamente ao soprano. Ouviu tudo, bebeu em todas as fontes, processou a informação, decantou e obteve um som próprio, que não é Bechet, nem Lacy, nem Coltrane. Nem sequer uma mistura de todos eles. As composições de Kelsey privilegiam o serpentear de melodias breves e sinuosas, de cores fortes, com ênfase nos aspectos rítmicos do swing e do blues. Um pouco à maneira de Ornette Coleman, no que respeita à menor consideração dos aspectos hamónicos e particular atenção ao tratamento modal da melodia, o que o deixa o saxofonista mais à vontade para improvisar livremente, rápido e brilhante no pensamento e na articulação das frases, seguido diferentes ideias que se vão alinhando sequencialmente.
O contrabaixista francês François Grillot e o baterista norte-americano Jay Rosen são dois talentos especiais, a sensibilidade e o peso certo para enquadrar as evoluções de Chris Kelsey no sax soprano, ora a par, ora mantendo-se na peugada, deixá-lo propositadamente descolar do pelotão, para o apanhar a seguir. Nesta medida, a gestão do tempo que o trio faz é um exemplo de inteligência e bom gosto. A fluidez e a intensidade do groove e do swing da dupla rítmica – tão cerrados que às vezes mais parecem drones – é semelhante à que já se ouvira em Renewal, disco de 2004 que apresentava a mesma formação, com a diferença de que aditava a chama de Steve Swell, em trombone.
Mais concentrado e focado nos aspectos essenciais da improvisação, Wishing You Were Here é um disco fresco e estaladiço como raramente se ouve no jazz actual. Há que pôr olhos e ouvidos neste músico extraordinário que é Chris Kelsey.