Forçado à acolchoada posição horizontal e à toma de caldos próprios de uma gripe à moda antiga, com a magana a querer atirar comigo para o andar de cima – quero dizer, para aquela inflamação nos bofes a que se dá o nome técnico de pneumonia –, vi-me nos últimos dias na contingência de passar a ouvir apenas sons celestiais ou, mais prosaicamente, os da minha própria e tússica improvisação, a espaços suavizada com a escuta de um ou outro disco leve no pisar e de confecção mais macia, que a cabeça, dolorosa, mais não permitia. E foi nessa altura que ocorreu revisitar The Bad and the Beautiful, segundo disco do duo de Håkon Kornstad (saxofone tenor) e Håvard Wiik (piano), membros activos do jazz nórdico da actualidade, disco que a sueca Moserobie editou há uns meses, e que em nada desmerece o que o anterior Eight Tunes We Like já mostrava: dois improvisadores seguros, a saberem afirmar-se na esteira do que antes fizeram outros expoentes do duo de saxofone e piano, como Archie Shepp e Horace Parlan, em Trouble in Mind (Steeplechase, 1980), por exemplo – estes, incisivamente a trabalhar sobre os blues e suas derivações. Neste caso nórdico, a matéria-prima de base é outra, e inclui, além de um tema original escrito a meias, composições de gente tão variada no estilo e na substância, como Carla Bley, Annette Peacock, George Gershwin, Sonny Rollins, David Raskin, Keith Jarrett, Thelonious Monk, Graham Nash, Ornette Coleman e Bowie/Eno. Todas as composições receberam tratamento delicado, apto a fazer sobressair as qualidades harmónicas e melódicas das peças, ao mesmo tempo que revela aspectos interessantes na leitura que o duo faz de clássicos como Four in One, de T. Monk, ou Law Years, de Ornette Coleman. Louve-se a concentração, o cuidado posto nos detalhes, a sensibilidade, a veia lírica e a beleza poética que perpassam por estes 11 temas de adequado acabamento e elevado fervor emocional.