Grand Mal, editado em parceria com a editora de Ernesto Diaz-Infante (Pax Recordings) contém uma sessão gravada em 2001, em Oakland, Califórnia. Kyle Bruckmann (oboé, english horn) já tinha tocado anteriormente com os guitarristas John Shiurba e Diaz-Infante, embora juntos não tivessem desenvolvido qualquer projecto musical consequente. Reunido o trio e estabelecidas as coordenadas, ter-lhes-á parecido adequado à criação do ambiente pretendido convocar a percussionista Karen Stackpole, instrumentista aproximada ao estilo do britânico Paul Lytton, longe do que se possa parecer com um tipo de tratamento convencional. Tudo menos convencional é esta música misteriosa que o quarteto explora intensamente ao longo de dez movimentos. Percorre um leque diversificado de territórios já visitados, mas susceptíveis de revelar insuspeitadas e interessantes (re)descobertas, relatadas em progressão lenta. O propósito aponta no sentido da investigação pormenorizada e microscópica das texturas invulgares criadas pelas duas guitarras, eléctrica e acústica – ainda que dificilmente destrinçáveis – sopros micro-tonalistas no limite do audível e percussão espectral. A música é quase estática, ou por outra, evolui milimetricamente quase sem se dar por isso, tal como a vida no interior de um formigueiro, criando um murmúrio orgânico complexo.
Se Grand Mal foi fruto da bem fadada colaboração entre as editoras Barely Auditable e Pax Recordings, neste outro caso o esforço foi partilhado entre a primeira e a Ertia Creations, numa tentativa bem sucedida de pôr em comum não apenas os encargos de edição, mas essencialmente as cumplicidades na criação musical espontânea. Six Synaptics documenta o encontro entre dois dos maiores improvisadores da Chicago actual, o soprador da escola de Anthony Braxton, Scott Rosenberg, e o percussionista e compositor Michael Zerang. O terceiro elemento volta a ser é Kyle Bruckmann, aqui em plena exploração das abstracções sonoras realizadas com os instrumentos de sopro, obtidas a partir da manipulação electrónica em tempo real. Zerang, veterano de inúmeras colaborações com Peter Brötzmann, Mats Gustafsson, John Butcher e Ken Vandermark, aplica todo o seu saber percussivo na construção das sinapses, por onde passa o fluxo criativo das três figuras. Scott Rosenberg, saxofonista e clarinetista de crescente importância na cena norte americana actual, faz render a sua capacidade de produção de cor e movimento. Entende-se bem com a percussão e com o emaranhado de sons electrónicos que irrompem da maquinaria processadora.