Uma demo com três temas gravados em 2002, na Alemanha. Vinte e quatro minutos de música servem para provar o que nem de longe suspeitava antes de ouvir: a arte de Felix de Barros, pianista e saxofonista alemão de ascendência brasileira. Felix mostra ser um pianista muito interessante, com a mão formatada pelo bop mais esclarecido e aberto à novidade. As sessões de Wayne Shorter com Lee Morgan do período Vee Jay, à volta de 1960, poderão ser consideradas o paradigma ou pelo menos a fonte de inspiração, consciente ou inconsciente, deste trabalho, embora se note que Felix e o seu grupo de músicos alemães, através de um olhar revisor, distanciado e original sobre o hard bop, alargaram o seu próprio léxico e para incluir elementos que transportam a música para a actualidade, por vezes às portas do que se convencionou designar por freebop. Tal é particularmente reconhecível no primeiro e terceiro temas da demo, sendo a peça do meio uma abordagem que evoca Coltrane de finais de 50. Nos três originais, não titulados, tocam Christian Grabant (trompete), Felix Wahnschaffe (saxofone alto), Walter Ganchet (saxofone tenor), Felix de Barros (piano), Oliver Potratz (contrabaixo) e Eric Schaeffer (bateria). Música de grande nível, a prova revela um grupo com energia, versáti e inventivo, capaz de se atirar para mais longe. Felix de Barros reside actualmente em Portugal, na zona de Lisboa, pelo que não será de espantar que uma noite destas o possamos ver e ouvir a tocar piano (ou saxofone alto) algures por aí. Espero bem.