Em Seattle, deu-se há poucos anos o encontro de três improvisadores japoneses, membros da comunidade universitária daquela cidade norte-americana, de seu nome Kazutaka Nomura (guitarra, voz), Shinsuke Yamada (percussão, electrónica, xilofone e voz) e Noriaki Watanabe (piano, sintetizadores, xilofone e percussão). Do trabalho que empreenderam juntos resultaram, ao que se sabe, quatro dezenas de edições limitadas, em formato cd-r, até que a Pax Recordings lhes abriu as portas para aquela que fica para a história como a primeira edição “industrial” do bizarro trio nipónico, exímio na arte da mais weird improv dos últimos anos. A mistura não deixa dúvidas: em 44 minutos, Na (palavra que em japonês pode ter vários sentidos, como “nome”, “flor” ou “exorcismo”) lança se numa luxuriante aventura sonora de género inclassificável, pois recolhe elementos de uma vasta série de géneros e subgéneros da música popular e erudita, de melodias folk que recordam a infância no que ela tem de ingénuo e de perverso. O formato é o da improvisação totalmente livre, em que impera um delicioso e pouco usual sentido lúdico. No fundo, o trio não pretende mais que divertir-se e divertir o ouvinte, como quem brinca com coisas sérias, despreocupadamente, combinando experimentalismo underground com o colorido de fitas e lacinhos pop, espécie de cartoonismo do género Zorn meets Zappa dos tempos de "Studio Tan", com um toque especial de psicadelismo tipicamente japonês. Nas 10 canções (chamemos-lhes assim) de “Naisnice” há algo de comum ao que se pode ouvir nos conterrâneos Boredoms, sobretudo ao nível das vocalizações e da liberdade formal, descontado algum peso das guitarras, que aqui são essencialmente acústicas ou preparadas para soar de modo estranho e cacofónico. Atenção a estes intrépidos e bem-humorados anarquistas sonoros. Bem a merecem. "Naisnice" é uma das grandes e agradáveis surpresas de 2006.