Triptych Myth, The Beautiful (AUM Fidelity). Cooper-Moore (anteriormente conhecido por Gene Y Ashton), piano; Tom Abbs, contrabaixo; Chad Taylor, bateria. Cooper-Moore, homem de muitos ofícios instrumentais e variados recursos estilísticos, a propender para um estilo mais aberto e formalmente livre, arma-se de novos materiais melódicos, redefine a noção de tema e de swing, evoluindo a partir do que se reconhece como tradicional, no seu espectro mais abrangente.
The Beautiful é ponto de partida para o alinhamento das ideias que Cooper-Moore tem vindo a desenvolver ao longo dos últimos 30 anos, influenciadas pelo trabalho em produções teatrais e de dança. Baladas (Frida K. The Beautiful, dedicada à pintora e activista mexicana Frida Kahlo, é uma pequena obra-prima), valsas e abstracções poéticas free convivem com máxima adaptação e flexibilidade num canto único que se reparte por dez composições originais, seis de Moore, duas de Chad Taylor, uma de Tom Abbs e outra do trio.
Impressiona a sensação de movimento pacificador que sai das mãos de Copper-Moore; Tom Abbs toca o contrabaixo na sua totalidade física e emocional, Chad Taylor eleva a parada rítmica ao ponto certo, como já o haviam feito no disco anterior, editado pela Hopscotch Records. Este Triptych Myth, o Full-Blown Trio de Dave Burrell, e o outro recente de Jamie Saft, com Greg Cohen e Ben Perowsky (Book of Angels Vol. 1, Jamie Saft Trio Plays Masada Book Two, Tzadik), são três obras importantes no continuum de renovação e restruturação do piano-trio, que inclui o passado, o presente e o futuro de uma das fórmulas mais trabalhadas do jazz, que já vinha penosamente a dar sinais de preocupante esgotamento. Em particular, este The Beautiful é um marco importante nesse processo; além de ser uma delícia de disco, que perdurará no tempo e ficará seguramente como um dos momentos mais altos da arte do trio neste início de século. Boa notícia é também o facto de esta ser a primeira de três edições que o Triptych Myth fará para a AUM Fidelity. Assim os deuses os inspirem, como generosamente o fizeram desta vez. Por isso lhes devemos agradecer, também. Finalmente, breve referência às notas que William Parker escreveu para o disco, que expõem uma visão pessoal sobre o papel da música improvisada nos dias de hoje. «Drop this CD over Iraq, Mister Bush» – pede WP, depois de sublinhar as qualidades regenerativas e bem-fazejas para a saúde individual e da Humanidade no seu conjunto. «If this CD only sells one copy, the music has done more good then we could real know».