Duas coisas já não me aconteciam há algum tempo: ver o Benfica a jogar bem à bola e ouvir Miles Davis at Fillmore: Live at the Fillmore East (New York City, 17-20 de Junho de 1970). Mais raro ainda (inédito até), foi fazer ambas as coisas em simultâneo. Cortado o som à televisão, poupei-me aos comentários dos doutores da bola de serviço. Optei então por pôr o Miles a relatar, com a sua equipa de comentadores. No canal esquerdo, Keith Jarrett, em órgão Farfisa (que mimo!); no esquerdo, Chick Corea, piano Fender Rhodes; no miolo, Dave Holland, baixo eléctrico; e entre a esquerda e o centro, o sax soprano e a flauta de Steve Grossman; ah, e a bateria e percussão de Jack DeJohnette e de Airto Moreira. Há quem não goste deste Miles porque a música sofreu muitas tesouradas de Teo Macero e tal, o que é verdade e não lhe fez nada de bem, é certo. Mas, pondo isso de lado, o que se ouve é Miles do melhor (do Fillmelhor...), na máxima forma. A tal scraggly funkified static groove music, como lhe chamou a JazzTimes. A juntar à noite da Luz, é o que se chama ganhar em dois tabuleiros.