O concerto abriu bem, nos primeiros 15 minutos ouviu-se grande música improvisada. Depois... bom, quase todo o resto do concerto me sugeriu a imagem estereotipada de um longo e – lamento dizê-lo - aborrecido debate televisivo a três, em que os intervenientes estão invariavelmente mais preocupados em fazer passar os seus argumentos, em emitir sound bytes, em "vender o seu peixe" alto e bom som, tentando convencer as pessoas pelo lado mais histriónico, que em ouvir o que os outros parceiros têm para dizer e em comunicar com o público.
Os portugueses Rui Horta Santos (aka Abdul Moimême), guitarrista e saxofonista, aqui exclusivamente em saxofone tenor, e Eduardo Raon, em harpa e electrónica; com Lisle Ellis, o veterano contrabaixista canadiano, há anos a viver na Costa Oeste dos EUA, raramente foram um trio, uma unidade na diversidade que procurasse (e tivesse encontrado) uma linguagem comum.
Quase sempre estiveram em palco três músicos que, apesar de se terem esforçado, de muito terem porfiado pela procura de uma base comum de entendimento, acabaram por passar o tempo a discursar simultaneamente, três linhas paralelas de muito ocasional encontro e convergência.
Por outro lado, a opção deliberada pela peça única de longa duração, com cerca de uma hora, também não foi feliz, porque tornou a música algo cansativa e sem direcção. Uma sucessão de temas mais curtos teria eventualmente facilitado a concentração tanto dos músicos como do público, e potenciado maior variabilidade sonora.
A impressão com que fiquei foi a de ter experimentado um longo drone de contrabaixo percutido, com excesso de volume (uma constante) e abuso de pedais de efeitos, exagero de que igualmente padeceram o saxofone tenor e a harpa, de onde brotavam os mais agudamente agressivos, ásperos e distorcidos sons electroacústicos, que em nada ajudaram ao esforço comum que, desejavelmente, deveria ter beneficiado a criação colectiva.
Em síntese, menos teria certamente resultado em mais. Sintomaticamente, a melhor parte do concerto foi a do sino de água, o tal «brinquedo do jovem imperador do antigo império chinês», momento de grande beleza estética em que à volta de Rui Horta Santos, Lisle Ellis e Eduardo Raon se concentraram em ouvir o som do sino e, a partir dele, elaborarem em consonância, sem atropelos nem desvario.
Foi pena tanto tempo para tão pouco, tanta parra para tão pouca uva, porque, Moimême, Ellis e Raum são três músicos de grande valia individual, que em contextos diferentes demonstraram à saciedade saber fazer de sobra o que ontem minguou em toda a linha. Acontece aos melhores, como uma vez mais se provou.
LISLE ELLIS - contrabaixo electrificado / EDUARDO RAON - harpa e electrónica / RUI HORTA SANTOS - saxofone e sino de água. Trem Azul - 18 Abril, às 19h30.