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1.2.05
 
Há tempos, entre a gravação de The Ventriloquist (Leo Records, 202) e Suite For Helen F. (Boxholder, 2003), constou nos meios do jazz que Ivo Perelman, o "colorista do jazz e da tela", como a si próprio se designa, estaria prestes a deixar a música para se dedicar por inteiro à pintura. Perelman parece ter desistido daqueles intentos, pois, além de pincéis e brochas, felizmente tem continuado a pintar telas com o saxofone tenor. E volta a fazê-lo superiormente neste mais recente Black on White.
Perelman, saxofonista brasileiro, radicado nos States desde o início da década de 80, tem muito de Albert Ayler no seu som. Estão lá a frase, o vibrato, a rouquidão, a explosão incendiária, a emoção e a autenticidade que Ayler soprou. Mas está também a leitura pessoal que Perelman faz da herança da Ayler, o tratamento personalizado do tempo, cor e movimento.
O impulso criativo de Ivo Perelman é muito forte, quase torrencial. Para lhe dar largas escolheu o possante contrabaixista Dominic Duval, que já conhecia de 1996, aquando da gravação de Slaves of Job (CIMP), e Jackson Krall, baterista, propulsor ideal para este tipo de contextos de expressionismo abstracto de enorme intensidade discursiva, que fazem apelo tanto à força como à subtileza.
Posto o trio em acção, tudo se conjuga e representa graficamente em múltiplos pontos de intersecção; a tensão dialéctica entre as projecções de Perelman e os grandes movimentos espaciais de Duval (que trabalho com o arco!), cujas linhas se entrelaçam com as texturas que Krall esculpe e inventa, tensão que faz realçar o traço luminoso com que Ivo obsessivamente pinta o seu mundo pictórico. Até ao instante em que tudo se suspende e se passa da velocidade da luz para a calma instrospectiva e daí ao lirismo arrebatador.
Como um polígrafo, o saxofone de Ivo Perelman risca sinuosamente sobre uma superfície, regista as mudanças interiores, representando-as de forma rápida, ágil e sinuosa, que é também em si mesma a representação da verdade crua de um artista autêntico, cuja espontaneidade eruptiva oscila no limite entre o equilíbrio e o colapso. E faz de Black on White um disco irresistível a que se volta sempre, com dor e com prazer.
Ivo Perelman - Black on White (Clean Feed, 2004)


 


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