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4.10.04
  Michael Jefry Stevens & Michael Rabinowitz, «PLAY»

O fagote é um instrumento de sopro construído em madeira, com dupla palheta, conhecido por produzir sons que, nalguns dos seus registos, apresentam semelhanças com a voz humana. No jazz e na música improvisada a sua utilização constitui uma relativa raridade. Mesmo na música clássica não são muitas as obras escritas especificamente para este instrumento, contando-se entre as mais conhecidas, composições de Mozart, Carl Maria von Weber, Stravinsky e Prokofief (talvez «Pedro e o Lobo» passe por ser a mais popular das obras em que o fagote assume papel principal).
Além de Karen Borca e de Lindsay Cooper, Michael Rabinowitz é dos poucos instrumentistas que tem feito carreira no jazz e na música improvisada a tocar fagote (bassoon). A ligação musical do fagotista com o brilhante pianista Michael Jefry Stevens, que resultou nesta recente sessão para a editora norte-americana
Drimala, intitulada Play, já vem de longe. Data do início dos anos 90, do Mosaic Sextet, com Joe Fonda, Dave Douglas, Mark Feldman e Harvey Sorgen. Foi no Mosaic que ambos artistas iniciaram uma interessante colaboração, onde deram cartas e jogaram partidas de improvisação colectiva com bons resultados, evidenciando desde o início a existência de um entendimento perfeito entre personalidades musicais afins.
Play reflecte à saciedade esse profundo conhecimento mútuo e total empatia musical. Dado à prensa em Agosto de 2004, embora gravado em 2002, a obra prossegue o desafio que o produtor Philip R. Egert (Drimala) colocou, de enveredar pela edição de uma série de duetos que são outras tantas oportunidades de fruir projectos estética e musicalmente arrojados. Eis, pois, a oportunidade de, novamente, colocar aqueles dois grandes criadores face-a-face, sem outra figuração, para assim tocarem música de criação espontânea, misteriosa e rica na abundância e diversidade de detalhes, com uma complexidade e intensidade tais ao nível da sintaxe, que fazem com a sua organização formal, na aparência, se aproxime menos da improvisação livre que da típica composição camerística.
Ouvidos os 14 temas que integram o disco, 11 duos e 3 solos, 2 de Stevens e 1 de Rabinowitz (temas 3, 10 e 7, respectivamente), salta à evidência a maneira particularmente feliz como as vozes dos instrumentos se combinam e articulam; apreende-se a elegância do traço e a nitidez do desenho das figuras; a extraordinária paleta de cores e formas; o equilíbrio das dinâmicas; o uso hábil da luz, sombra e penumbra – assiste-se ao processo alquímico da fusão de todos os elementos numa liga homogénea, que esbate por completo as fronteiras entre o que é organização prévia e criação no momento.
Em Play, realização de elevada maturidade estética, Michael Jefry Stevens e Michael Rabinowitz, mestres absolutos nos respectivos instrumentos, criam e transmitem musicalmente todo o tipo de estados de alma, num espectro emocional que vai da tempestade à bonança, por meio de uma comunicação musical muito própria, que, apesar de complexa na sua tecitura e exposição, não compromete a facilidade de acesso por parte dos diferentes públicos que se interessam pelo jazz/improv e pela música clássica.

 


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