A veterania e a provecta idade de Fred Anderson faz do saxofonista de Chicago uma figura com presença efectiva nos grande movimentos da história do jazz, a começar no Swing, período em que dava os primeiros passos e abria os ouvidos para a música, início de uma longa viagem até ao tempo presente. Entretanto, teve tempo para passar pelo bop e participar no ressurgimento do free jazz, através da experiência libertária que foi a marca da AACM (Association for the Advancement of Creative Musicians), ao mesmo tempo que abria as portas do clube Velvet Lounge a quem nas últimas décadas ia passando por Chicago e queria tocar. De então para cá, Fred Anderson ganhou nova notoriedade, com inúmeras participações em festivais internacionais e em sucessivas edições discográficas. Pela Engine Records, num arranjo estabelecido com a ESP-Disk, chegou agora Staying in the Game, a mais recente (que se conheça) investida de Anderson em CD. A formação escolhida, o trio sem piano, talvez seja aquela em que o saxofonista pare sentir-se mais à vontade. Harrison Bankhead, contrabaixo, e Tim Daisy, bateria, dois músicos da Windy City, asseguram a fluidez ritmica em que se apoia o carismática construção discursiva do saxofone tenor, com o reconhecível som quente e directo, rico em crescendos e decrescendos de intensidade. A destilar inspiração contraneana, mas também de Pres e de Hawk, a par de outro grande nome do sax tenor de Chicago, Von Freeman, em Staying in the Game, Fred Anderson não se fica pela prova de vida (fez 80 anos em Março último) e, mais que afirmar a sua permanência em jogo, primeiro facto a assinalar com satisfação, transmite a sabedoria de grande mestre da arte de improvisar e reafirma a vitalidade de um som personalizado, ao mesmo tempo evocativo do melhor que a memória do jazz transporta até nós.