Pedro Rebelo e Franziska Schroeder, músicos mais próximos da expressão erudita contemporânea, teoria e prática acústica e electroacústica, com um pé na improvisação; Ernesto Rodrigues e Guilherme Rodrigues, percorrem a via larga das actuais correntes da composição instantânea, juntaram-se para tocar e registar o resultado. Aqui está como dois afluentes com características de fundo e forma diferentes na sua multipolaridade, se juntam num mesmo e vasto curso que é a música improvisada. Em "May There Be..." há linguagens que se interseccionam, práticas concertadas que concorrem para formar um tertium genus, ambientes organizados numa mundivisão vivida e partilhada no risco permanente da falta de rede. É assim que, sem buscar deliberadamente encontrar o caminho da chegada, a música prefere especular para lá de todas as evidências sonoras, insinuar-se por entre as mutações orgânicas, deixando mais por dizer nos espaços em aberto, que no assinalar de pontos de referência. Piano preparado, violino, saxofone soprano e violoncelo trocam sinais tímbricos do centro para a periferia e no sentido inverso, entabulam jogos de dinâmicas variáveis e estabelecem, de tema para tema (e são nove) diferentes relações não hieraquizadas por meio dessa prática comum que é improvisação. "May There Be..." é um disco de câmara de criação espontânea, lírico, de bela cor outonal, frágil e luminoso. Edição Creative Sources Recordings.