«Dois dos mais geniais insurrectos da história do jazz, Alan Silva (contrabaixo, sintetizadores) e Burton Greene (piano, sintetizadores) exploram há mais de cinquenta anos todo o campo de possibilidades criativas. Figura nucleares do desenvolvimento identitário do free-jazz – leia-se Nova Iorque, anos 60 –, Silva e Greene formaram em 1963 o Free Form Improvisation Ensemble, pioneiro colectivo centrado nas novas ideias de livre improvisação e composição espontânea. Ao longo dessa década definidora, tanto um como outro gravaram em nome próprio álbuns lendários para a ESP-Disk ("Skillfulness", "The Burton Greene Quartet"), participando também noutras gravações em sessões lideradas por visionários como Sun Ra, Cecil Taylor ou Albert Ayler e actuando regularmente em espaços como o mítico Judson Hall.
Alan Silva, baixista, pianista, etc., tem vivido em Paris desde os anos 70. Aí juntou a fantástica Celestial Communication Orchestra, um delírio multi-instrumental virado para os céus onde todos os vanguardistas expatriados dos EUA encontraram refúgio (Dave Burrell, Lester Bowie, Gracham Moncur III, Steve Lacy, entre muitos outros), e cujo fogo pode ainda hoje ser escutado nas gravações feitas para a BYG-Actuel ("Lunar Surface" e "Seasons"). Nos últimos anos tem multiplicado a sua cadeia de relações, actuando tanto a solo (o público da ZDB experienciou-o assim em 2005) como num conjunto de diferentes formações.
Burton Greene, pianista de dedos místicos, experimentador das múltiplas capacidades dos sintetizadores, também vive na Europa há quase quatro décadas. Activo num sem-número de frentes, tem editado recentemente, através da Tzadik de John Zorn, espantosas sessões imbuídas na tradição musical Klezmer, na qual se envolveu a partir da década de 80.
Testemunhas heterodoxas em permanente descodificação, Alan Silva e Burton Greene são o fulgor criativo de quem soube reajustar a sua existência ao longo do tempo. São pura magia. Nada mais importante que isto vai acontecer em Lisboa nos próximos tempos».