Uma passagem pela Secção Coltrane da Estante 1 (como cresceu e se multiplicou...) para a escolha de um disco ao acaso, não vale ver... e é Dakar que vem à rede, um Prestige de 1957 que já não ouvia há um bom par de anos. Maravilha, a sessão de 20 de Abril de 1957, gravada no estúdio de Rudy Van Gelder, em New Jersey, com uma curiosa geometria formada por três saxofones, um tenor (John Coltrane) e dois barítonos (Cecil Payne e Pepper Adams), mais Mal Waldron (piano), Doug Watkins (contrabaixo) e Art Taylor (bateria). A música afirma-se bem dentro da tradição, convencional dentro do hard-bop que vigorava à época, longe ainda da explosão da segunda metade da década seguinte. O que não impede que haja momentos de pura intensidade, com os três sopradores a “picarem-se” reciprocamente. Mal Waldron está à vontade no centro das operações, a estabelecer as coordenadas e a distribuir jogo para a frente, onde Pepper Adams, em grande forma, recebe e converte em belos solos, alguns dos melhores que lhe ouvi. Sem dúvida que a Prestige publicou melhor Coltrane desta fase, safra que deu perto de uma dúzia de LPs (as sessões completas Prestige andam por aí à venda), quando ainda não se tinha emancipado do quinteto de Miles. É o caso de Black Pearls, por exemplo, ou de The Last Trane, mas não se fica nada mal servido com a audição de Dakar.