Santiago Latorre, músico e engenheiro de som oriundo de Barcelona, Espanha, leva já umas dezenas de anos de investigação nos meandros na música electroacústica. Nome sobejamente conhecido de quem acompanha os festivais SONAR e LEM, de experimentação musical, que se realizam em Barcelona, Santiago Latorre tem tido no saxofone e na parafernália electrónica a base do seu trabalho, seja com actividade intensa nas áreas da dança, teatro e videoarte, ou com o projectos como o Sonification of the Human Genome, um laboratório de experimentação onde foram caldeados outros projectos, como este que deu à estampa na editora norte-americana Accretions, em Novembro de 2008. Ao escutar 'Órbita', gravado no estúdio Grabaciones Silvestres, Barcelona, em 2006, não pode o ouvinte deixar de se sentir tocado por esta música elegante e melancólica, de suave e austera sofisticação. A sensação que se tem é de se ter embarcado em viagem já realizada, mas que se vem a revelar diferente a cada passo, recheada de motivos de interesse, não apenas paisagístico. 'Óbita' é como um ser vivo que, sendo sempre o mesmo na sua estrutura essencial, evolui, modifica-se a cada dia que passa, movendo-se em círculos que ocasionalmente implicam o regresso a um tempo e um lugar que se reconhecem de visitas anteriores. O mesmo tipo de estrutura cíclica, orbital, está presente em todos os nove temas do disco, que partem de melodias e texturas sonoras subtis, desenhadas e montadas numa base de instrumentos electrónicos. A música, de inspiração distante no jazz e na improvisação livre, abre espaços amplos para as intervenções suaves do piano acústico, acordeão, voz e saxofone, processados ou não, sons que se arrumam e desarrumam por si à medida que ganham vida própria.
(Dias antes deste texto, Jesús Moreno entrevistou Santiago Latorre em Huesca, terra onde Latorre nasceu e de onde partiu aos 11 anos para Zaragoza, antes de passar a Barcelona, onde vive desde então).