Há mais de 20 anos, o saxofonista e compositor alemão Norbert Stein criou o conceito que denominou Pata Music, derivado do termo cunhado por Alfred Jarry, autor da teoria denominada Patafísica, também conhecida por ‘ciência das soluções imaginárias’, manifestação que teve em Boris Vian um dos mais conhecidos cultores, e cuja teria por missão explorar os campos negligenciados pela física e metafísica. A ideia seria atingir o conhecimento sem recurso às regras pré-estabelecidas pela razão e pela tradição, sem no entanto as desrespeitar, fórmula aberta que Norbert Stein importou para integrar o seu conceito estético na música. Em paralelo, Stein criou uma editora com o propósito de publicar o trabalho desenvolvido com os diversos grupos que formou de então para cá: Pata Masters, Pata Orchestra, Pata Horns, Pata Trio, Pata Blue Chip e Pata Generators. Foi com este último ensemble que realizou aquele que é o mais recente título da editora Pata Music. Direct Speech, dentro do espírito que marca a música de Norbert Stein, retoma a expressividade extrovertida e ritmicamente ágil dos trabalhos anteriores, em particular de Graffiti Suite, peça conceptual executada pela NDR Bigband, editada em 2006. A variação rítmica, melódica e cromática é outra constante. O vocabulário é vasto e recheado de soluções apropriadas para expor e clarificar a intrincada trama de cada composição. Neste aspecto, a música do quinteto Pata Generators, um combo ‘clássico’ na formação sem piano e três sopros na dianteira – Norbert Stein (saxofone tenor), Michael Heupel (flautas), Matthias Muche (trombone), mais Sebastian Gramss (contrabaixo) e Christoph Haberer (bateria) – filia-se menos na tradição posterior ao bop, que numa linhagem que descende directamente do jazz europeu, tal como o subgénero se foi talhando em particular da década de 60 a esta parte, e que na Alemanha teve grandes cultores, como o trombonista Albert Magelsdorff ou o multi-instrumentista Gunter Hampel, duas figuras de referência do jazz alemão e europeu. Mas as influências assinaláveis em Direct Speech não se ficam por aqui. Além dos arranjos luxuriantes e da improvisação assente em composições bem estruturadas, de que emergem elementos tributários do jazz orquestral de ambos os lados do Atlântico, o disco compreende as mais surpreendentes soluções do free jazz e da improvisação livre, motivos pelos quais os músicos mostram um interesse particular, patente no modo criativo como tratam de as combinar de modo a transformá-las e integrá-las como partes de um todo homogéneo e equilibrado nas proporções, para formar uma linguagem original a que imprimem um forte cunho pessoal. Sem hesitações, um dos grandes discos de jazz de 2008.