O prolífico pianista norte-americano Mulgrew Miller aportou ao Centro Cultural de Belém para dirigir a Lisbon Jazz Summer School, a decorrer entre 18 e 26 de Julho no CCB, em Lisboa. Como introdução à iniciativa, na noite de sexta-feira, 18 de Julho, o pianista deu no Grande Auditório um concerto de jazz mainstream sofisticado de alto nível técnico e artístico. Miller, músico com um curriculum feito de muito trabalho com gente como Art Blakey, Tony Williams, Duke Ellington, Joe Lovano, Ron Carter, entre muitos mais, além da memória do jazz dos últimos 50 anos, trouxe consigo um sexteto muito rodado, grupo com o qual trabalha há cerca de duas décadas - o Wingspan, episodicamente forçado a quinteto, por doença súbita do trompetista Duane Eubanks. Da formação base do Wingspan – que é também título de um tema que Mulgrew Miller escreveu em homenagem a Charlie Parker – também não veio o saxofonista Steve Wilson, substituído por Antonio Hart, em saxofone alto e soprano, permanecendo Steve Nelson no vibrafone, Ivan Taylor no contrabaixo e Rodney Green na bateria. Em palco, o grupo pratica um jazz maduro, queimado nas formas do bop mais criativo, que vem de Charlie Parker para diante. Das mãos do pianista do Mississípi saíram composições que ou já são standards do jazz ou para lá caminham, como Go East Youg Man, The Sequel, When I Get There, num estilo em que é notória uma mistura complexa de influências, que vão de Oscar Peterson a McCoy Tyner, com passagem por Duke Ellington. A sua sonoridade consegue um interessante equilíbrio entre lirismo, intensidade dramática e acento tónico nos blues, tal como Thelonious Monk os viveu e interpretou. O swing moderno vem dos Jazz Mesengers de Art Blakey, escola que lhe ensinou a sacar do piano toda a gama possível de emoções. O reportório assentou na sua maior parte em The Sequel, disco de 2002 que MM gravou para a editora MaxJazz, com tempo e espaço para todos os músicos brilharem, com competência, verve e imensa criatividade. Destaquem-se as intervenções de António Hart (belo rasgo em Sophisticated Lady), com outro grande solo num tema de Hank Mobley – o homem da noite, logo seguido pelo estonteante Steve Nelson e as suas excursões maravilhosas pelas lâminas do vibrafone. A fechar uma excelente actuação, Mulgrew Miller & Wingspan tocaram Samb D’Blue, tema que é também o derradeiro do CD The Sequell. (Foto: Jimmy Katz)