A ideia, além de meta-musicalmente interessante, resultou bem. “A fábrica e a sua voz – texturas sonoras da indústria têxtil”. Ou uma via de estudo da arqueologia industrial do Séc. XIX numa perspectiva sonora, pesquisada através do ambiente original de uma fábrica de lanifícios oitocentista movida a energia hidráulica, segundo processos industriais em uso numa época anterior à da máquina a vapor, ambiente transportado a este tempo de tecnologia electrónica, com duas revoluções industriais de permeio. A exposição/instalação sonora, constituída por quatro peças (Wheel Room; Weaving; Work Canteen; e Cardroom), foi montada in loco na Fabbrica della Ruota di Pray, em Itália, ao cabo de meses de investigação no interior do edifício, gravações, produção e pós-produção. Trabalho de fhievel (Luca Bergero) e Luca Sigurtà, dois artistas da sonorização, sonoplastia e experimentalismo musical, originários de Biella, e ligados às correntes do minimalismo electrónico. Juntos, com Claudio Rocchetti, já haviam publicado Pocket Progressive na mesma Creative Sources Recordings (cs024), em 2005, noutro tipo de contexto e com propósitos muito diferentes, mais ligados à improvisação electroacústica. O que Bergero e Sigurtà pretenderam com The Wheel (cs113), foi trazer de volta a voz das máquinas há muito emudecidas, voz distante apresentada tal como se nos aparecesse em sonhos, filtrada, manipulada, distorcida, porém reconhecível como pertencente a um tempo e a um espaço conhecidos, mas projectada numa dimensão espectral e fantasmagórica inteiramente nova, acentuada pela vastidão do espaço natural que lhe era próprio. Durante semanas a dupla cirandou pela vastidão reverberante das salas da velha Fábrica da Roda, instalando microfones, cabos, computadores, material electrónico diverso, pondo em funcionamento canais de água, a grande roda e seu desdobramento noutras rodas dentadas, elevadores, carris, rotativas, correias de transmissão, engenhos vários, sem-fins, veios e teares, ao mesmo tempo que gizavam um plano para memória futura de uma paisagem sonora situada num tempo remoto, a que não faltam as vozes das centenas de homens que lá trabalharam, porque as podemos imaginar.