Um, dois, três discos do festival High Mayhem, edição de 2005. O que musicalmente se passa em Santa Fé, no Novo México, terra de valentes cóboaiadas, constitui motivo de interesse para quem segue de perto ou de longe as movimentações ligadas ao jazz e à música improvisada em geral. Max Friedenberg é uma das pessoas mais dinâmicas daquelas terras áridas, que assim não o perecem tanto. Dirige uma associação sem fins lucrativos, uma editora discográfica, promove concertos, festivais e workshops. Divulga artistas das diversas áreas da inovação musical e do experimentalismo ligado às mais variadas franjas da improvisação, e também do jazz, rock, vídeo, artes performativas, exposições. Criou e dinamiza um pólo importante de educação pela arte que escapa à padronização e à homogeneização que tem vindo a tomar conta do jazz corrente.
O escopo da editora, ligada ao festival High Mayhem, é o de registar e editar os concertos que promove. Um bom exemplo, antes de mais. Nessa medida, o CD High Mayhem Festival 2005, pensado como um cartão de visita do Festival, dá uma ideia do que se passa na cena de Santa Fé. Carlos Santistevan, contrabaixista e director da editora, organizou a mostra a partir de remisturas de gravações dos concertos ocorridos. O produto é musicalmente apelativo, na maneira como capta e devolve o espírito e a forma do festival. Um sampler com vida. O Out of Context é um ensemble de 10 músicos dirigido por J.A. Deane há já alguns anos. Para esta edição do High Mayehm, o grupo improvisou sobre uma peça única, Wenomadmen, escrita para uma produção teatral. Percussão, flauta, fagote, trompete, voz e sons electrónicos, crescem juntos e desenvolvem-se lentamente em camadas que se expandem até atingir momentos fulgurantes de explosão catártica, após o que se regressa à mais tranquila meditação por sobre ondas sonoras que flutuam a toda a volta em movimentos ascendentes e descendentes.
É do Out of Contest que nasce outro dos grupos desta edição do festival, o Taiji Pole. Em trio, J.A. Deane, flauta, Carlos Santistevan, contrabaixo, e Matt Deason, contrabaixo, com electrónica adicionada à mistura, evoluem dentro do mesmo tipo de improvisação do Out of Context, assente em camadas de texturas sonoras de tonalidades escuras, com sentido de progressão e eficiente gestão dinâmica. Uma longa viagem, contínua e sem movimentos bruscos ao longo das três peças, de 38’17, 1’13 e 32’55, respectivamente. Outro sucesso musical do High Mayhem, o que dá três tiros em cheio.