Os três noruegueses deste quarteto que se completa com o britânico Pat Thomas, improvisam juntos desde que em 1998 fundaram o núcleo essencial do ensemble No Spaghetti Edition. Nos intervalos, Ivar Grydeland, guitarra, Tonny Kluften, contrabaixo, e Ingar Zach, percussão, integram ainda o trio Huntsville. Por outras palavras, No Spaghetti Editon, Huntsville e Hiss, são três diferentes laboratórios de pesquisa sonora que os músicos usam extensivamente ao serviço da experimentação em culturas de improvisação livre. No caso de Zahir, as conclusões são aparentadas mais às da velha Escola Inglesa de Improvisação, que das mais recentes inovações que nos têm chegado do Norte da Europa, uma obra que descende na linha recta das descobertas de John Stevens com o Spontaneous Music Ensemble. Os processos criativos são actuais, isto é, deixam-se contaminar saudavelmente pela evolução que a música improvisada sofreu nos últimos 40 anos, principalmente através dos ganhos que a electrónica digital trouxe, com a diversidade de novos timbres e texturas que lhe está associada, reconhecíveis nos movimentos de noise controlado (leia-se sussurra sem gritar) e também pelos contributos originários do rock psicadélico das últimas décadas, traduzido em mais Terje Rypdal e em menos Derek Bailey. Ouvido a fundo, é certo que Zahir não revela nada de conceptualmente inovador, pese embora o interessante desenvolvimento de interessantes direcções, pontas deixadas soltas por músicos que historicamente precederam os três jovens noruegueses e o veterano britânico. Este aspecto transgeracional é outro ponto a considerar, na medida em que o meio em que se desenvolveram, os condicionalismos envolventes e a idiossincrasia de uns e de outro, se fazem repercutir no produto final.
Salta à vista que preocupação do quarteto foi apresentar um trabalho sólido e sonoramente bem estruturado, a partir de breves pistas e indicações de progressão, resultando satisfatório ao nível da combinação instrumental e da articulação entre as diferentes vozes, que favorecem o uso das micro-tonalidades. Apreciável é também o modo como as estratégias individuais são aplicadas ao serviço de um som coerente e intrinsecamente homogéneo, que, não sulcando “mares nunca dantes navegados” (Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto I), nos reserva ainda assim um apreciável leque de surpresas ao longo das cinco composições de instantânea fixação. Editou em 2003 a italiana Rossbin.