Esta manhã comprei o Sol. O jornal, claro. Para sintetizar, diria que este n.º 1 no melhor parece o Expresso, para pior; e no menos bom parece o defunto Independente, não dos tempos do MEC e do "Paulinho das Feiras", mas de quando já se arrastava pela mão de Serra Lopes. Colam-lhe o rótulo de imaginativo e outras tiradas publicitárias, mas tal não corresponde à realidade. Aliás, o Arquitecto Saraiva, se fosse imaginativo, era arquitecto, não era director de jornais e autor de uns editoriais que benza-os Deus. Folheei, folheei o produto, já penosamente enfastiado, e fui dar à Música (secção Cultura, Ciência e Tecnologia) na expectativa do que a imaginação e a irreverência do Sol me poderiam proporcionar, leitor ávido que sou. Valente gargalhada. Com tanto pregão, promessa de irreverência e sei lá que mais, nada, nem para a amostra. Que há então em matéria de música que o Sol entenda com interesse editorial para levar até aos seus leitores? Quem já sabe não diga. Nem mais nem menos que um textinho desenxabido de Ana Markl sob esse subproduto musical que só merece referência por estar na moda, os esganiçados e falsetosos Sissor Sisters, pura pastilha elástica pop, e outro texto de André Cunha Leal a anunciar um concerto da violoncelista Natália Gutman na Casa da Música. E pronto, sobre música, "no país e no mundo", como diz o Rodrigo Guedes de Carvalho no telejornal da SIC, estamos conversados, não vá o leitor empanturrar-se demasiado, coitadinho, e sofrer uma apoplexia logo ao romper da aurora de um "novo jornalismo".
Compreende-se a intenção de fazer um jornal leve, mas quanto à música (e às outras artes, acrescentaria), de tão leve e frívolo, o “Sol” fica a pairar no ar, sem substância nem densidade, e a gente com pouca vontade de o voltar a agarrar. Para ser justo, vou conceder-lhe uma segunda oportunidade, a ver se me consigo iluminar com o próximo número. E a ver se o jornal é capaz de evoluir da actual pobreza franciscana, do grau zero do jornalismo cultural destes pouco auspiciosos vagidos. Grafismo frouxo, conteúdo sofrível. Jornal para o Séc. XXI? Nem pó.