Foi um sóbrio e discreto Alan Silva que ontem actuou durante cerca de meia-hora no palco da ZDB, em Lisboa, no fecho dos três dias de festival Where is the Love?. Na bagagem, memórias de um passado histórico muito importante, uma arca cheia cujo conteúdo o músico de ascendência açoreana (uma avó era oriunda dos Açores) revelou a um público entre o conhecedor e o simplesmente atraído pelo peso da lenda.
A todos Alan Silva ofereceu um recital de contrabaixo solo que, sem ter tido a centelha do extraordinário, foi honesto e farto em momentos evocativos de um tempo em que andou na boa vida com Cecil Taylor, Albert Ayler, Archie Shepp, Sunny Murray, Bill Dixon, Frank Wright, Andrew Hill, Jimmy Lyons e muitas outras figuras de topo do movimento. Um homem no epicentro do free jazz desde os anos 60 para cá, com passagem pela Arkestra de Sun Ra e pela Jazz Composer's Guild. O exílio parisiense, entre 1968 e 1972, serviu-lhe para arquitectar e pôr em funcionamento a Celestrial Communications Orchestra.
De há uns anos a esta parte, Alan Silva, além de contrabaixo, também toca sintetizador (expandiu formal e substancialmente a linguagem inventada e desenvolvida por Sun Ra) a solo ou com o In The Tradition, trio com o trombonista alemão Johannes Bauer e o percussionista britânico Roger Turner.
Alan Silva com beldade, emoldurado por Hernâni Faustino e Lizuarte Borges.
(Fotos de Rui Portugal)