Pedro Chambel regressa a alguns dos mais interessantes aspectos das instâncias de despojamento de linguagem sonora que usou no seu álbum de estreia (Anamnesis - CS004). Abstracção e experimentalismo continuam a ser as linhas de enquadramento da música de Chambel. Onde antes crepitavam fragmentos de ruído para-industrial, em sequências de erupções descontínuas, frequências com maior amplitude sonora e diferentes níveis de intensidade, há agora um maior investimento no silêncio e no drone eléctrico com origem no amplificador da guitarra, sobre o qual Chambel dispõe o resultado da sua meticulosa actividade com microfones. Mais maduro, despojado e incisivo que Anamnesis, em Bruit continua a reconhece-se algum parentesco estético com Keith Rowe, patente numa série de técnicas comuns de abordar o instrumento que à falta de melhor termo ainda se pode designar por guitarra eléctrica, e de onde brotam micro-sons electroacústicos e ricas texturas de ruído modulado e delicadamente integrado na corrente dronológica, reminiscente do disco anterior. Bom trabalho, este de Pedro Chambel, eventualmente mais concentrado, personalizado e comunicativo que o disco de estreia, no qual o improvisador português já deixava entrever algumas pistas de desenvolvimento para ulteriores investigações.