Não me conto entre os admiradores de Jacinta, "a nossa cantora na Blue Note". Não gosto do estilo nem do timbre da sua voz nasalada, reconhecendo embora que a senhora não desafina - o que já provara no Chuva de Estrelas da SIC - e que, pelos vistos, tem artes de encantar meio-mundo ou mais. Ainda bem para ela.
Nos últimos dias, enquanto me barbeio pela manhã, tenho pacientemente ouvido na rádio uma versão de I'm Beginning to See the Light que não lembraria ao demo. Meu Amigo Decide Lá, passou a cantar o refrão, e o resto do clássico segue pelo mesmo nível imagético, aportuguesando canhestramente a letra original.
Que havia de errado com o tema? Não descortino, francamente. Não dava para continuar a soar em Inglês? Apesar de "Day Dream" ter outros temas cantados na língua original, parece que não, porque o que ouço em I'm Beginning to See the Light é uma apalermada fraseologia que inclui pérolas como "preferes duche ou imersão", "não sabes se odeias ou tens paixão" (tens paixão, tens lume, tens uns trocos?...); "se entendes de jazz ou escutas fado" (não invento, cito de cor) e outras vulgaridades quejandas, vacuidades forçadas à rima e ao soar em Português, custe o que custar, doa a quem doer. E dói.
Porque será que o público tem que continuar a ser tratado como indigente mental pelas luminárias parolas deste país, que acabam de descobrir a América?! Além das intenções comerciais (dá para anglófono ouvir e português perceber, comprando ambos, claro está) e do toque "exótico" de "Português Suave" que cai que nem ginjas à fábrica de sucessos que dá pelo nome de Blue Note Records, qual é a ideia "original" subjacente? "Diz-me se tenho ou não razão, meu amigo decide lá”.