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22.12.05
  John Hollenbeck em 2002, de passagem pelo Guimarães Jazz.



John Hollenbeck é baterista e compositor do Claudia Quintet e do John Hollenbeck Large Ensemble. O seu trabalho de compositor tem alcançado grande notoriedade, e vindo a ser reconhecido por músicos como Bob Brookmeyer e John McNeely. Hollenbeck colabora habitualmente com Meredith Monk, Cuong Vu e David Krakauer. Foram editados Semi-Formal, do Claudia Quintet, pela Cuneiform Records, e John Hollenbeck Large Ensemble: A Blessing, na Omnitone.
À conversa com Hernâni Faustino.

Hernâni Faustino – O teu trabalho no jazz é bastante abrangente, colaboras com o Achim Kaufmann, Bob Brookmeyer, mas também na música contemporânea, com Meredith Monk. Como é que aconteceu esta interacção como baterista?
John Hollenbeck – Quando era jovem não gostava só de um género musical, gravava cassetes com o que mais gostava nos vários géneros musicais, fazia várias colectâneas. Talvez venha daí a minha apetência pela variedade na música. Mas o jazz sempre teve um grande impacto na minha formação como músico; estudei música clássica, conheci uns amigos brasileiros que me introduziram a novos ritmos, tenho amigos que ouvem muito rock....
HF – A bateria é o teu instrumento de eleição?
JH – A bateria, e o vibrafone; um pouco de piano, bem como outros instrumentos de percussão. Eu estudei percussão clássica, tocava em orquestras... mas, viver em Nova Iorque proporciona várias exposições, toquei klezmer, música argentina e brasileira. A minha música reflecte todas estas experiências.
HF – Lideras três projectos diferentes. Podes falar um pouco sobre eles?
JH – O Claudia Quintet tem uma formação com acordeão, vibrafone, clarinete, baixo e bateria. Tocamos muito e fazemos digressões pelos E.U.A. A música que criamos é muito rítmica, e tentamos uma mistura entre o funk e...coisas do tipo Martin, Medeski & Wood, Radiohead e a música electrónica. Sendo um grupo essencialmente acústico, tem muita improvisação, embora o material seja maioritariamente escrito.
HF – Porquê o nome Claudia?
JH
– Eu tinha um grupo com um acordeonista e um baixista, tocávamos todas as segundas-feiras. Ao princípio, apareceu uma rapariga muito entusiasmada com a música e a dizer que viria todas as semanas, que traria os amigos, etc. Eu acreditei, mas ela nunca mais apareceu. O nome dela era Claudia... decidi chamar o grupo de Claudia Quintet, é como uma piada, eu adoro os nomes de mulheres, já existe muito macho-man no jazz e eu gosto muitas das qualidades femininas, e de as traduzir em parte através do Claudia Quintet. O som do grupo é muito soft, clarinete, vibrafone e acordeão, é sempre muito gracioso.
O Quartet Lucy tem a colaboração do cantor germânico Theo Bleckmann, e o baixista Skuli Sverrisson, esta música é mais ambiental e melódica, é um grupo com o qual tenho imenso prazer em tocar.
No Images é um grupo mais masculino, e as pessoas envolvidas tem uma relação com o free jazz, a formação tem três saxofonistas e bateria, três trombones e bateria, duetos com Ellery Eskelin e com David Liebman. Obviamente que No Images não é uma banda, foi um projecto que eu gostei muito de fazer, a única peça que continuo a tocar chama-se The Drum Major Instinct, onde uso um discurso de Martin Luther King, Jr.. A peça foi escrita para dois trombones e bateria. No disco, os trombonistas foram o Ray Anderson e o Dave Taylor...
HF – Achas que as mulheres que tocam jazz têm uma sonoridade e uma linguagem diferente da dos homens?
JH – Não sei...acho que não...é muito dificil de dizer, às vezes ouvimos mulheres a tocar que conseguimos identificar, como a Marilyn Crispell ou a Susie Ibarra....mas acho que não é por serem mulheres, mas sim pelo que são como criadoras.
Na música é muito dificil ser-se afável; o grupo do Achim Kaufmann, que tocou no Festival de Guimarães, produz uma música muito doce e melódica, mas por vezes também se torna complicado para o público, que está mais preparado para ouvir outro tipo de música, mais imediata....
HF – É complicado trabalhar com o Achim?
JH – Não. É preciso trabalhar muito os temas, porque a escrita do Achim é dificil e ele gosta que sejamos muito criativos quando improvisamos.
HF – Como é que vês o panorama actual em Nova Iorque.É fácil sobreviver como músico?
JH – Hoje em dia as coisas estão muito difíceis. Nova Iorque continua a ser um local privilegiado para quem queira contactar com outros músicos, mas não existe muito trabalho, a maioria tem que tocar na Europa. É uma cidade fantástica e quase todos os grandes músicos passam por lá, podemos tocar juntos, etc. Fiz uma digressão de duas semanas com o Claudia Quintet, o que é um verdadeiro milagre, dadas as circunstâncias... mas parece que as coisas começam a melhorar, o ideal é tocar na Europa.
HF – Qual o baterista que mais te influenciou?
JH – São vários, gosto praticamente de todos...
HF – Podes falar um pouco sobre o duo com Theo Bleckmann?
JH – O Theo usa electrónica, loopings e efeitos, a música é toda ela improvisada, mas tentamos que pareça uma composição com um efeito visual. Eu e o Theo temos em comum a procura por sons estranhos. A percussão e a voz foram provavelmente os primeiros instrumentos do Homem. Tentamos fazer uma abordagem ao aspecto primitivo da música.
HF – Como é que começaste a tocar com a Meredith Monk?
JH – A Meredith costumava tocar com o percussionista Collin Walcott, que morreu num acidente de automóvel quando estava em digressão com os Oregon. Depois da morte de Walcott, ela nunca mais usou percussão na sua música, embora a tenha tornado mais percussiva. Entretanto, Theo começou a trabalhar com Meredith, e ela comentou que talvez estivesse interessada em voltar a ter um percussionista no seu grupo, mas que queria ter a pessoa indicada. Foi então que o Theo me recomendou. Fui a um ensaio, ela gostou da minha colecção de percussões e da minha forma de tocar. O trabalho da Meredith é praticamente todo improvisado, ela grava e depois escolhe o que mais gosta e a partir daí nasce o trabalho específico sobre cada peça. Eu tenho praticamente carta branca para fazer o que quero, gosto muito de trabalhar com ela, os seus conceitos são muito diferentes dos conceitos dos músicos de jazz, a música é muito emotiva e aberta. A primeira vez que toquei no ensaio, ela lembrou-se do Collin Walcott, emocionou-se e chorou. Nunca conheci ninguém como a Meredith, ela é um ser humano fantástico.
HF – Porque é que recorres tanto a brinquedos sonoros?
JH – Eu gosto muito dos sons dos brinquedos, não por serem engraçados, mas por resultarem bem na minha música, e sempre com alguma discrição.
HF – As pessoas no fim do concerto do Achim, acharam que eras muito parecido com o Jim Black? O que pensas disso?
JH – Gosto muito do Jim, mas tento não ouvir muito as coisas que ele faz. É um baterista incrível e adoro a sua forma de tocar, toca muito com o meu amigo Chris Speed. É muito boa pessoa e tem uma cultura muito virada para o rock, enquanto a minha cultura vem mais do jazz e da música clássica. O meu trabalho é mais vocacionado para a composição, enquanto o Jim é basicamente um baterista. O Jim nunca faz aquilo que estamos a espera, é sempre uma surpresa.
HF – E o Joey Baron?
JH – Ele foi muito importante para mim. Somos muito parecidos, tocámos straight ahead jazz e big bands durante muito tempo. Conheci-o quando ele começou a tocar com Bill Frisell e John Zorn, e a afastar-se da maneira convencional de tocar jazz. É claro que esta viragem teve uma grande influência no meu desenvolvimento como baterista. Adorei o seu primeiro trabalho com o grupo Barondown, Ellery Eskelin e Steve Swell. Ele usa sons secos e curtos, e isso torna a música muito mais limpa.
HF – Achas que a audiencia europeia é diferente da norte americana?
JH – A audiencia nos EUA é mais pequena, mas muito educada, na Europa as pessoas vão ver quase tudo, tem maior curiosidade em assistir a concertos de músicos que nunca ouviram falar.

Hernâni Faustino

 


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