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16.6.05
 
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Cada gravação de Whit Dickey tem dado a conhecer ao público um novo conceito de ente colectivo que ciclicamente se refunda e reorganiza em termos de se poder apresentar como tal. Desde Transonic (1998), o primeiro álbum de Dickey como líder, que assim tem sido. Repetiu-se em Big Top e Coalescence, e agora volta a ser verdade com In a Heartbeat. Não se trata de magia; é trabalho, investimento e organização.
É nesta estratégia que assenta a manufactura de In a Heartbeat. Processo global que exige dos membros do quinteto mais que simples cumplicidade e orientação convergente: a criação musical sinergética, na qual, por definição, o produto final é superior à soma das partes que o compõem.
Neste caso, as partes são, além de Whit Dickey que, à excepção do tema de abertura, de Carla Bley, assina a totalidade das composições e assegura as componentes propulsiva e cromática da percussão, Rob Brown, saxofone alto; Roy Campbell, trompete; Joe Morris, guitarra; e Chris Lightcap, contrabaixo.
Os quatro são companheiros habituais de Dickey na cena jazz/improv de Nova Iorque, músicos que mantêm entre si uma relação marcada não por valores de hierarquia, mas por um certo igualitarismo, em que cada voz, na sua individualidade e diversidade próprias, assegura o tempo e o espaço necessário à expressão individual e à contribuição para o som colectivo.
A composição musical de Whit Dickey, ainda que a sua função seja a de fornecer enquadramento para a actividade do quinteto, baseia-se em profundos conhecimentos técnicos, capacidade de interacção e interdependência, condições essenciais ao seu processo evolutivo. Tais pontos de partida, que colocam ao mesmo nível a composição escrita de base, e a que resulta da improvisação instantânea, validam o processo criativo, conferem um forte sentido de originalidade e estabelecem sinais distintivos de pertença a um estádio superior de desenvolvimento da música improvisada moderna.
Composição a composição, todo o trabalho está dividido em séries de actividades ou processos. Cada processo está ligado a outro processo e o resultado de um constitui o material de trabalho de outro, todos relacionados entre si pela solidez dos arranjos, sem que qualquer deles seja indissociável ou viva independentemente do viver de todos juntos.
Whit Dickey, mestre baterista, possui um som característico em que são evidentes a mistura homogénea entre força e sensibilidade e a fluidez do tempo, intensidade emocional e rigor formal, textura e volume, variedade de andamentos, características que assimilou em profundidade durante o período em que integrou o quarteto de David S. Ware, de onde partiu para pôr em prática o objectivo de dar sentido à necessidade de compor e dirigir, a partir de dentro, as suas próprias composições.
Rob Brown tem com Dickey uma das melhores e mais profícuas relações musicais. Traduzida na prática, Rob Brown é responsável pela faísca que acende o rastilho do animado discurso colectivo, hábil no encadeamento lógico das diferentes linhas musicais geradas pelas investidas entre luz e sombra da trompete de Roy Campbell, da guitarra pontilhística de Joe Morris, e da fluidez do contrabaixo de Chris Lightcap. Mestres da gestão do tempo e do espaço que lhes é concedido e daquele que conquistam em benefício do esforço comum, diverso na multiplicidade de padrões rítmicos e fraseados melódicos, qualidades que os fazem sobressair individualmente num mar de executantes dos mesmos instrumentos.
Neste quadro, a música do Whit Dickey Quartet é muito mais que a reprodução ou actualização das formas e definidas há sete anos atrás, aquando da publicação de Transonic. O que se ouve em In a Heartbeat resulta, afinal, da discussão interna e do amadurecimento colectivo à luz da experiência individual, que inclui um olhar consciente sobre os caminhos do jazz actual.
A vontade e o entusiasmo de tocar e de partilhar a música com o ouvinte, determina os superiores níveis de criação artística patentes em In a Heartbeat. Garante retornos apreciáveis, consequência da maturidade artística e da ambição criativa, verdadeiros motores do progresso estético.
In a Heartbeat - Whit Dickey (Clean Feed, 2005)

 


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