Fabula (CS 220) dá título à peça única improvisação em quarteto (Axel Dörner, trompete; Ernesto Rodrigues, viola; Abdul Moimême, guitarra preparada; e Ricardo Guerreiro, computador), com duração de pouco mais que três quartos de hora, obra gravada em concerto no Cine-Teatro Curvo Semedo, Montemor-o-Novo, Portugal, em 3 de dezembro de 2011.
Sem a definição antecipada de parâmetros formais, e na ausência de um contexto predeterminado, a música desenvolve-se e progride em modo intimista, através da adição e subtração de elementos que se vão dispondo segundo a tendência reducionista, prática alternada com outros modos imediatos de composição/recomposição do vocabulário do quarteto.
Por entre a abrasiva discrição do sopro de Axel Dörner, insinuam-se os gestos acústicos das cordas de Ernesto Rodrigues, a ressonância metálica da escultura mutante de Abdul Moimême, e a pertinente interação dos efeitos eletrónicos de Ricardo Guerreiro com o restante material sonoro.
Em tempo real, assiste-se à produção e transformação tímbrica e textural em ampla espacialização, miríade de sons que questionam a resposta que se esperaria da instrumentação convencional utilizada, incluindo o computador.
O resultado é um novo enquadramento acústico plasmado na riqueza das múltiplas fontes, afinidades e características, que desenham uma empolgante narrativa sonora trabalhada sobre sequências de eventos não homogéneas – jogo múltiplo de concavidades e convexidades que intimamente relaciona o som com o espaço que o viu nascer.